sexta-feira, 20 de julho de 2012


Um texto atemporal para amizades do tipo "vida inteira". 

Feliz dia da Amiga

Todo esse papo capitalista sobre o tal “Dia do amigo” me fez pensar sobre uma coisa: A diminuição das amizades vicerais entre pessoas do mesmo sexo.

Ou seja, você, que nasceu a partir dos anos 70, provavelmente não tem um amigo do mesmo sexo que o seu que considere-o de fé, um irmão, um camarada.

Calma, explico: Após a revolução feminista dos anos 1960 as relações heterossexuais pré-matrimoniais (namoros, ficadas, FINcadas,  afins, e, às vezes, nem tão afins assim) tornaram-se muito mais intensas por conta da liberadade das fêmeas.
Até então, os varões (eventualmente gravetos tb) permaneciam até às 22h cortejando suas donzelas nos portões das casas, e, depois, debandavam-se para as suas aventuras etílico-sexuais sempre acompanhados dos seus queridos, seus velhos, seus amigos.
E, então, eram justamente nestas aventuras que a gota serena da amizade crescia, rendia, e se solidificava. Os caras (ou os bichos, para acompanhar a gíria da época) viviam juntos momentos difíceis e alegres, passavam por apuros, mas também experimentavam as glórias.

Porém, o mais importante, era que estavam sempre ali, juntos (coisa que o Santander tenta, mas não consegue). Eram os amigos incertos das horas incertas.

Entretanto, após a revolução do progesterona,  as coisas se modificaram. Com o devido direito de ir e vir sendo respeitado, as meninas começaram a acompanhar seus pares e a participar ativamente das peripécias até então exclusivamente masculinas. Elas aprederam a beber, deixaram o cabelo crescer, mas também cortaram e pintaram o danado das mais diversas formas, e decidiram ir trabalhar.
Além disto, a pílula anticoncepcional já havia se mostrado eficaz, o que só aumentava o poder feminino em relação às suas relações (este trocadilho foi infame, mas inevitável...).

Pronto! Estava preparada a receita. Agora todo mundo podia fazer sexo e embriagar-se com seu(sua) melhor amigo(a), inclusive podendo admitir honrosamente a ressaca da manhã seguinte!

Diga ai, tem coisa melhor que isto?!

Assim, pouco a pouco, contidianamente chegamos à seguinte situação: amizades entre pessoas do mesmo sexo apenas se intensificam quando ambos estão solteiros, pois, do contrário, um dos amigos sempre irá se sentir (e realmente estará) abandonado e, além disto, com dúvidas em relação à sua opção sexual, já que durante o suposto abandono irá ter crises de ciúmes do amigo.

Mas também existem as amizades livres da corrosão erótica.
Eu, por exemplo, tenho uma grande amiga há mais de 10 anos, Marcinha. Somos realmente amigos, falamos e contamos de tudo. Tudo. Mas(pensei  eu na minha miserabilidade cavernista) a amizade com Márcia seria apenas uma exceção. Amizade entre homens e mulheres não existem. 

Pois bem, peguei minhas coisas, amarrei a trouxa num cabo de vassoura, e apanhei um pau-de-arara voador no aeroporto de Recife rumo às Terras de José de Anchieta.
Entretanto, logo que cheguei em SP, arrumei amizade com uma outra criatura que consegue sangrar todos os meses e mesmo assim não morre: Luciana.
Lulu virou minha amiga também, amiga de verdade. E, para piorar, ela não bebe!! Ou seja, além do meu “camarada” paulista das horas incertas ser uma mulher, é uma mulher que não fica de pileque... minha vida estava arruinada!

Mas é justamente ai que é o bacana da história: As conversas entre pessoas de sexos opostos são imensamente mais provocativas, ricas em detalhes e cheias de novidades.
Mulheres normalmente não bebem ou bebem pouco, conversam sobre outros assuntos que não futebol, bundas ou carros, e, o melhor de tudo, tem um olhar poético sobre as coisas.

Ou seja, como não estou falando de matemática, são mundos paralelos que se encontram num lugar muito bonito. Um lugar chamado carinho.

Portanto, para vocês, homens ou mulheres, varões ou gravetos, comunistas ou capitalistas, desejo-lhes, feministicamente, um feliz dia da AMIGA!

Beto Figueirôa