quarta-feira, 11 de abril de 2012

Como fazer a escolha mais delicada da sua vida?

IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA
Como fazer a escolha mais delicada da sua vida?

Escolher é difícil. Pergunte a um psicólogo e ele vai explicar por que gente obrigada a optar entre uma coisa e outra – qualquer que sejam essas coisas – sente ansiedade. Isso acontece em lojas de sapato, em restaurantes, na porta do cinema e até no sexo. Uma amiga me contou outro dia como foi estar numa festa e ter dois homens sedutores dando em cima dela. “Tive de escolher um deles, mas com um aperto no coração”, ela me disse. No dia seguinte, o bonitão que ela escolheu caiu no vácuo e nunca mais deu notícias. Escolher, ela aprendeu, é abrir mão de alguma outra coisa - e as consequências podem ser irreversíveis.
Infelizmente para nós, nem todas as escolhas são tão simples quanto a do sexo na balada. Penso na escolha mais delicada que a gente faz na vida, aquela que envolve os parceiros de longo prazo. Em que momento concluímos que uma pessoa deixou de ser apenas item de prazer ou fonte de encantamento e se tornou a criatura com quem vamos dividir a vida? Pode ser casando, comprando apartamento e tendo filhos, ou, de forma menos ritualizada, pondo os sentimentos e necessidades dela no centro da nossa vida, mesmo vivendo em casas separadas. O compromisso é parecido, assim como os caminhos que levam a ele.
A primeira coisa que conta nas grandes escolhas – eu acho - é a permanência. Ninguém tem direito a reivindicar um posto dessa importância sem ter ralado um tanto. Não adianta a Fulana decidir, em 30 dias, que vai ser sua mulher para o resto da sua vida. Não funciona assim. O teste do tempo é fundamental. Se aquela mulher ou aquele sujeito continua lá depois de todas as discussões e inevitáveis desencontros, se ela ou ele resolveu ficar depois de todas as chances de ir embora, se os seus sentimentos em relação a ele ou ela continuam vivos, um bom motivo há de haver. 
 
É essencial, também, que a experiência de convívio seja boa. Amores tumultuados dão bons filmes e péssimas vidas. É essencial acordar no sábado e ter vontade de ficar mais tempo na cama, enrolado naquele ser ao seu lado. Se a conversa antes de dormir deixou de ser gostosa ou se qualquer programa parece mais interessante do que a companhia dela ou dele, para que insistir? O prazer que o outro proporciona é essencial. Prazer de transar, prazer de olhar, prazer de ouvir, prazer de simplesmente estar. Se você caminha pela rua com ela e os dois são capazes de rir um com o outro, algo vai bem. Se você passa a tarde com ele no sofá, lendo ou transando, e o dia parece perfeito, eis um bom sinal. A felicidade não tem receita, mas a gente percebe quando está funcionando.
Para que as coisas funcionem no longo prazo é essencial haver lealdade. Eu cuido, eu protejo, eu respeito – e você faz o mesmo comigo. Se você não sente que seus sentimentos e a sua vida são importantes para ele ou para ela, desista. Como o ambiente lá fora é hostil, é essencial saber que no interior da relação existe cumplicidade e abrigo, com um grau elevado de honestidade: você diz o que pensa e isso vai ajudar, ainda que doa. É impossível prometer que coisas ruins jamais irão acontecer, é falso garantir que os sentimentos permanecerão os mesmos para sempre, mas é essencial olhar nos olhos do outro e sentir a disposição de tentar, verdadeiramente, que seja assim. Aqui, agora, de todo o coração, tem de ser para sempre – ou então a gente nem começa.
Se tudo isso existir – e não é fácil – ainda fará falta um quarto elemento, essencial ao equilíbrio duradouro das relações: os planos. Se ele que ter cinco filhos e você não quer ser mãe, não vai rolar. Se ela quer levar uma vida de viagens e aventura e o seu sonho é ficar aqui mesmo, perto das famílias e dos amigos, não deu. Viver bem pressupõe afinidades essenciais de gosto, sentimento e expectativas, sem falar de ideologia. Todas essas coisas se refletem nos planos. Eu penso no amor como um voo de longa distância. O avião precisa estar carregado com o tempo da relação, com o prazer que ela proporciona e com a lealdade em que ela está baseada – mas as pessoas ainda têm de concordar sobre o destino. Se eu quero ir à Tóquio e você à Nova York, precisamos embarcar em vôos diferentes.

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Texto perfeito, não poderia deixar de compartilhar!
Excelente Semana

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A face do face da ortografia!!!

A tortura à norma culta...

No começo é assim, todos lindos, perfeitos e felizes. As poses mais bonitas, as roupas mais bacanas, as baladas mais agitadas... mais, mais, mais. É o superlativo cibernético. São as redes sociais criando fantoches virtuais. Pessoas que, apesar de visíveis (e como são!), na verdade são impeceptíveis.

Até parece uma avalanche de filosofia barata, recolhida de qualquer pensamento vago durante a permanência no vaso sanitário.
Entretanto, no regime democrático a expressão é livre, e  como cravou Descartes no famoso “penso, logo existo”, vemos as criaturinhas cyber-acéfalas exalando toda sua existência em pensamentos surreais, coisas pra lá de Dalí.

Tudo bem, pensar e falar é livre, seja você um Cristão, um Anunake, um proctologista, um Thundercat, ou até mesmo uma ex-paquita. Agora, escrever do "geito serto eh o mininu q se ixpera das pessoa!"

A informalidade da internet faz com que os cidadãos deixem de se preocupar com regras do idioma e atenham-se à venda da imagem ideal de simpatia, de perfeição, alegria e properidade.
O problema é que nossas criaturinhas cyber-acéfalas não percebem que ao escrever acabamos por apresentar nosso verdadeiro espetáculo, seja ele um drama, uma comédia, ou o circo dos horrores ortográficos das lindjas msgs de amor em nossas páginas do “Face” (uhu, mano! É nóis!).

O Brasil tem 560 anos de vida, a língua portuguesa mais de dez séculos, a internet (como a conhecemos) menos de 20, e as redes sociais quase uma década de existência. Porém, parece que a velocidade e a ferocidade destas últimas conseguem descaracterizar tantos números, tantos anos.
Presenciamos, talvez, um apocalipse linguístico.

Será?

Quando eu era da escola primária (agora ensino fundamental) tínhamos ortografia nas aulas de português. E, além do ditado obrigatório, os professores de qualquer matéria corrigiam erros relacionados à norma culta.

Pois bem, olhando diariamente as redes de relacionamento sinto uma angústia. Parece que o meu querido português (não Cristiano Ronaldo, O lindo, mas aquele dos livros, poemas, e poesias de Camões) está sendo assassinado. E o pior é que estes erros são cometidos por pessoas que normalmente tiveram acesso à norma culta, mas simplesmente banalizaram seu uso.

Perceba que nem estou falando de concordância, regência, crase ou coisas do gênero. Refiro-me apenas à composição das palavras, apenas isto.

É aceitável confundir exitar com hesitar, cuzcuz com cuscuz. Porém, dói muito ler diariamente palavras como:


Incorreta
Conforme norma culta
Faze
Fase
Saldade, maudade, aculsado, cupado, preoculpado, oculpado.
Saudade, maldade, acusado, culpado, preocupado, ocupado.
voçe
Você (antes de “e” e “i” não se usa ç)
Esperiência
experiência
Geito
Jeito
Intrevista
Entrevista
Mulhe, janta,
Mulher, jantar
Dilicia/
Delicia
E centenas de outras que poderíamos citar aqui..


Diante destas aberrações, louvo o quadro do programa de Luciano Huck, Soletrando. Apesar de fazer parte da execrável e banalizada programação global, o Soletrando é um incentivo aos jovens a praticarem nossa língua. Conhecer e desmembrar para desbravar!

Talvez antigamente algumas pessoas escrevessem errado. Porém, não havia redes sociais para tornarem públicas as filosofias mal-escritas dos seguidores de Suzana Vieira.

Mas, pensando bem, não acredito nisto. Acho que realmente a língua portuguesa atual está totalmente banalizada, e dá seu cartão de visitas através das “facebookices”.

Mas o pior, como numa profecia apocalíptica, ainda está por vir.

Outro dia uma jornalista de muita audiência soltou a pérola: “ fazem duas semanas...”. Pois é, deste jeito que você acabou de ler. E olhe que aprendemos nas primeiras aulas de concordância que o verbo fazer no sentido de tempo é impessoal, ou seja, não é flexionado.
O problema é que neste mundo das imagens e do consumo, a palavra flexionado só remete a músculos.
Prefiro crer que a “jornalista” tenha pensado na frase “faz duas semanas que elas fazem duas flexões por dia...”, mas acabou se confundindo , bichinha.

O que fazer? Há alternativa?

Fiquei elaborando um plano e pensei num botão “corrigir”, similar ao “curtir” ou “comentar”, do Facebook.  Depois,  imaginei a quantidade de desafetos virtuais que poderia ganhar e abortei a missão. Poderia receber algum comentário anônimo que ao abri-lo imediatamente seria infectada por Antrax. Saravá!

Penso que a língua portuguesa é de fato construída e modificada com o tempo. O usual vai agregando-se cada vez mais ao formal, mas a forma culta ou, como diz-se agora “a variante urbana de prestígio", ainda é a nossa norma padrão de escrita.

A internet é um território coletivo que nos dá o bônus da escolha, de pesquisa e de diálogo num terreno neutro. Mas, como toda liberalidade,  há o ônus da insegurança e falta de credibilidade em tudo que se apresenta.
Como nossos alunos têm acesso fácil a este universo, a formação linguística dos adultos da próxima geração está potencialmente ameaçada por Terabytes de "cinseros amiguxus do peitxu", neh?!.

Mas o que fazer, então?
 Ampliar o acesso à boa leitura é necessário, mas não é apenas isto. Como ler, por si só, para maioria das pessoas, não é prazeroso, sugiro um sistema de recompensa bem adequado ao mundo fútil em que vivemos:

A cada cada página concluída de uma determinada obra, o heróico leitor irá receber um “curtir benemérito” do seu instrutor da academia em sua page do face (uhu, doido! A galera arrêa!). Ao final do mês, àquela('e) que for o mais “curtido”, irá receber grátis uma aula de body jump.

Pronto! Resolvido o problema! Aplicando este sistema, assim como focas agraciadas com sardinhas, no futuro seremos uma nação de gente malhada que sabe, ao menos, o "geito serto de se iscrever na interneti", num eh..!?:°*&¨%$#@

Feliz páscoa!

Beto Figueirôa/ Márcia Rejane / Íris Britto