quinta-feira, 5 de abril de 2012

A face do face da ortografia!!!

A tortura à norma culta...

No começo é assim, todos lindos, perfeitos e felizes. As poses mais bonitas, as roupas mais bacanas, as baladas mais agitadas... mais, mais, mais. É o superlativo cibernético. São as redes sociais criando fantoches virtuais. Pessoas que, apesar de visíveis (e como são!), na verdade são impeceptíveis.

Até parece uma avalanche de filosofia barata, recolhida de qualquer pensamento vago durante a permanência no vaso sanitário.
Entretanto, no regime democrático a expressão é livre, e  como cravou Descartes no famoso “penso, logo existo”, vemos as criaturinhas cyber-acéfalas exalando toda sua existência em pensamentos surreais, coisas pra lá de Dalí.

Tudo bem, pensar e falar é livre, seja você um Cristão, um Anunake, um proctologista, um Thundercat, ou até mesmo uma ex-paquita. Agora, escrever do "geito serto eh o mininu q se ixpera das pessoa!"

A informalidade da internet faz com que os cidadãos deixem de se preocupar com regras do idioma e atenham-se à venda da imagem ideal de simpatia, de perfeição, alegria e properidade.
O problema é que nossas criaturinhas cyber-acéfalas não percebem que ao escrever acabamos por apresentar nosso verdadeiro espetáculo, seja ele um drama, uma comédia, ou o circo dos horrores ortográficos das lindjas msgs de amor em nossas páginas do “Face” (uhu, mano! É nóis!).

O Brasil tem 560 anos de vida, a língua portuguesa mais de dez séculos, a internet (como a conhecemos) menos de 20, e as redes sociais quase uma década de existência. Porém, parece que a velocidade e a ferocidade destas últimas conseguem descaracterizar tantos números, tantos anos.
Presenciamos, talvez, um apocalipse linguístico.

Será?

Quando eu era da escola primária (agora ensino fundamental) tínhamos ortografia nas aulas de português. E, além do ditado obrigatório, os professores de qualquer matéria corrigiam erros relacionados à norma culta.

Pois bem, olhando diariamente as redes de relacionamento sinto uma angústia. Parece que o meu querido português (não Cristiano Ronaldo, O lindo, mas aquele dos livros, poemas, e poesias de Camões) está sendo assassinado. E o pior é que estes erros são cometidos por pessoas que normalmente tiveram acesso à norma culta, mas simplesmente banalizaram seu uso.

Perceba que nem estou falando de concordância, regência, crase ou coisas do gênero. Refiro-me apenas à composição das palavras, apenas isto.

É aceitável confundir exitar com hesitar, cuzcuz com cuscuz. Porém, dói muito ler diariamente palavras como:


Incorreta
Conforme norma culta
Faze
Fase
Saldade, maudade, aculsado, cupado, preoculpado, oculpado.
Saudade, maldade, acusado, culpado, preocupado, ocupado.
voçe
Você (antes de “e” e “i” não se usa ç)
Esperiência
experiência
Geito
Jeito
Intrevista
Entrevista
Mulhe, janta,
Mulher, jantar
Dilicia/
Delicia
E centenas de outras que poderíamos citar aqui..


Diante destas aberrações, louvo o quadro do programa de Luciano Huck, Soletrando. Apesar de fazer parte da execrável e banalizada programação global, o Soletrando é um incentivo aos jovens a praticarem nossa língua. Conhecer e desmembrar para desbravar!

Talvez antigamente algumas pessoas escrevessem errado. Porém, não havia redes sociais para tornarem públicas as filosofias mal-escritas dos seguidores de Suzana Vieira.

Mas, pensando bem, não acredito nisto. Acho que realmente a língua portuguesa atual está totalmente banalizada, e dá seu cartão de visitas através das “facebookices”.

Mas o pior, como numa profecia apocalíptica, ainda está por vir.

Outro dia uma jornalista de muita audiência soltou a pérola: “ fazem duas semanas...”. Pois é, deste jeito que você acabou de ler. E olhe que aprendemos nas primeiras aulas de concordância que o verbo fazer no sentido de tempo é impessoal, ou seja, não é flexionado.
O problema é que neste mundo das imagens e do consumo, a palavra flexionado só remete a músculos.
Prefiro crer que a “jornalista” tenha pensado na frase “faz duas semanas que elas fazem duas flexões por dia...”, mas acabou se confundindo , bichinha.

O que fazer? Há alternativa?

Fiquei elaborando um plano e pensei num botão “corrigir”, similar ao “curtir” ou “comentar”, do Facebook.  Depois,  imaginei a quantidade de desafetos virtuais que poderia ganhar e abortei a missão. Poderia receber algum comentário anônimo que ao abri-lo imediatamente seria infectada por Antrax. Saravá!

Penso que a língua portuguesa é de fato construída e modificada com o tempo. O usual vai agregando-se cada vez mais ao formal, mas a forma culta ou, como diz-se agora “a variante urbana de prestígio", ainda é a nossa norma padrão de escrita.

A internet é um território coletivo que nos dá o bônus da escolha, de pesquisa e de diálogo num terreno neutro. Mas, como toda liberalidade,  há o ônus da insegurança e falta de credibilidade em tudo que se apresenta.
Como nossos alunos têm acesso fácil a este universo, a formação linguística dos adultos da próxima geração está potencialmente ameaçada por Terabytes de "cinseros amiguxus do peitxu", neh?!.

Mas o que fazer, então?
 Ampliar o acesso à boa leitura é necessário, mas não é apenas isto. Como ler, por si só, para maioria das pessoas, não é prazeroso, sugiro um sistema de recompensa bem adequado ao mundo fútil em que vivemos:

A cada cada página concluída de uma determinada obra, o heróico leitor irá receber um “curtir benemérito” do seu instrutor da academia em sua page do face (uhu, doido! A galera arrêa!). Ao final do mês, àquela('e) que for o mais “curtido”, irá receber grátis uma aula de body jump.

Pronto! Resolvido o problema! Aplicando este sistema, assim como focas agraciadas com sardinhas, no futuro seremos uma nação de gente malhada que sabe, ao menos, o "geito serto de se iscrever na interneti", num eh..!?:°*&¨%$#@

Feliz páscoa!

Beto Figueirôa/ Márcia Rejane / Íris Britto


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